quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

De volta - e o balanço...

Estava lendo os antigos posts agora e achei que deveria me redimir. Se eu tenho consciência, como (futura) jornalista, de que as palavras têm uma força até sobrenatural, com o perdão pelo exagero, registro que falhei na descrição dos últimos 27 dias. Sugiro-nos, então, um breve balanço do que vi, vivi e senti...

O Lugar: O Rio pareceu-me talhado ao bom humor do Criador. Se esses dias me devolveram a crença nas coisas que não vejo ou compreendo, posso assim descrever seus morros de pedras decoradas de pontos verdes que se deixam ver de longe, sob um sol impiedoso, que transpassa o céu nublado e ilumina tudo. Das favelas que engolem parte da cidade, a areia clara que margeia o mar gelado, à energia que toca e transforma tudo - e todos.
As esquinas cariocas abrigam teatros e museus que completam a beleza natural do lugar. Eu, como se quisesse ainda mais, passeava em companhia dos meus cds preferidos. E foram muitas as horas de contemplação silenciosa. Era tudo exatamente como imaginei; infinitamente bonito, tal qual as notas da Bossa Nova.
A solidão dos dias de Rio foi muito bem acompanhada por pensamentos, paisagens e música.

O Albergue: Desde que cheguei, hoje pela manhã, foi isso o que mais gerou perguntas. Como é a experiência de dividir espaço e tempo com pessoas de todos os tipos e idiomas? Bem, no começo o excesso de gente e a falta de privacidade incomoda um pouco. Depois, o falar de sotaques e línguas diferentes e as narrativas vidas completamentes diferentes e inimagináveis torna-se algo mágico. O mundo cabe inteiro ali.

A entrevista: Eu cheguei no prédio da SVC (Sociedade Viva Cazuza) com meia hora de antecedência. Quem me recebe é uma das crianças atendidas pela ONG (lembre-se que todas elas são HIV positivo). Havia uma outra entrevista marcada para antes da minha, então sentei-me no pátio com a pequena anfitriã da casa - o que me fez relaxar, já que estava com as mãos geladas e um nó me apertava a garganta. Filipe me disse que nós nunca estamos preparados para atingir objetivos, então momento de conquista parece incomodar um pouco. Acho que era isso.
Passados 40 minutos, a secretária, Aline, veio me chamar. Acho que nunca mais me esquecerei do momento em que ela abriu a porta e Dona Lucinha Araujo, mãe de Cazuza, veio me receber. Cordial, de fala clara e raciocínio rápido, proprios dos que muito bem conhecem o assunto, ela deixou que a minha mínima experiência com entrevistas desse o rumo à nossa conversa. Gaguejei e tentei ser o mais profissional possível.
A opinião dela sobre o caso da Veja me deu gás para começar a parte, digamos, burocrática da coisa. Depois da minha descrição "científica" do fato, ela me disponibilzou o material arquivado sobre Cazuza desde 1980. Pediu que Dona Clarinha (olha a intimidade), sua irmã mais velha e coordenadora do Projeto Viva Cazuza, me acompanhasse até a sala onde são guardados troféus, fotos, objetos pessoais e todo material sobre a vida e obra de Cazuza.
Não preciso nem dizer que fiquei um tempo meio boba. Alguém que é muito fã de um artista deve ficar assim quando o vê, mas como para mim isso não é possivel, me contento com essas coisas.
Em suma, depois desse dia da entrevista, numa quarta-feira, 17 de janeiro, voltei na segunda da semana seguinte, quando pude vasculhar todo o arquivo do projeto. Foi uma tarde maravilhosa na companhia de Dona Clarinha, que achava graça na minha cara olhando tudo aquilo. Antes de vir embora, ainda passei lá pela terceira vez para agradecer à Dona Lucinha pela entrevista e para comprar camisetas da SVC.
Voltei com meus livros autografados, uma entrevista razoavelmente bem feita e uma alegria impossível de ser descrita.

As pessoas: Suiço, alemã, argentinos, ingleses, canadenses, israelense e chilenos. Mineiro, pernambucanos, gaúchos, alagoano, cariocas, paulista e baiana. Gente de todo tipo de juízo, de todas as cores, sotaques e idiomas. Houve os que passaram anônimos por mim, outros que contribuiram para transformar esse em um tempo agradabilíssimo e ainda aqueles que viraram amigos e pessoas que eu não vou esquecer nunca mais.

Ok, chega. Postarei algumas fotos para finalizar esse blog.
No mais, fica uma excelente sensação de dever cumprido, de festa bem aproveitada, de alegria por estar em casa e uma saudade imensa do Rio!

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